O taxista que não trabalha no Natal
No boteco de sempre, o taxista pediu um último trago. Já havia largado o serviço e não trabalharia na amanhã seguinte mesmo. Na noite de Natal, seu táxi não trabalhava mais.
Quando o bodegueiro depositou a saideira à sua frente, ele pegou o pequeno copo com cuidado, destinou algumas gotas ao assoalho e tomou o resto de um só gole. Então, a pedido do dono do bar, contou mais uma vez a história daquela corrida.
Foi em uma noite de Natal. Os fogos já haviam cessado, os champanhas, estourados. Passava da meia-noite quando o casal de jovens, bem na curva da Avenida Cavalhada, na Capital, fez sinal para o taxista.
O rapaz, após um longo beijo na moça, abriu a porta para que ela entrasse. Depois, pediu ao taxista que levasse sua namorada para casa com cuidado. Pediu que, por favor, ele não corresse.
Chegando ao endereço indicado, a jovem pediu mil desculpas ao taxista. Disse que não tinha dinheiro no momento, mas que ele poderia voltar ali no dia seguinte, pois sua mãe pagaria a corrida com uma boa gorjeta. Irritado, o taxista acabou concordando.
Quando voltou para cobrar a corrida, o taxista foi atendido por uma senhora. A mulher já estava acostumada com aquilo. Todo Natal era a mesma coisa. Ela levou o taxista até a sala e perguntou se a moça que ele trouxera na noite anterior era a que estava na foto da parede. Ante a confirmação do taxista, ela lhe pagou a corrida e explicou.
Aquela era sua filha. Em uma noite de Natal, há muitos anos, a garota e o seu namorado haviam morrido em um acidente, na curva da Avenida Cavalhada, devido à imprudência do rapaz, que dirigia em alta velocidade.
O taxista nunca mais trabalhou na noite de Natal.
Por MAURO CASTRO
lá do taxitramas
3 comentários:
"arrupiei"!
"arrupiei"
de chorar, isso sim...
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